Entre Mosquitos, Besouros e Sonhos

Conta-se que há algum tempo, vivia por essas bandas um jovem Calango.

Calango, era uma pessoa comum, desejos comuns, sonhos comuns e esperanças comuns.

Todos os dias, Calango saía de sua casa, e ia trabalhar. O trabalho de Calango não tinha nenhum glamour. Era repetitivo e monótono, e ele trabalhava em uma salinha em um cantinho abafado no final do corredor.

Ao final de cada dia de trabalho, Calango recebia como pagamento pelos serviços prestados um punhado de mosquitos para se alimentar.

No trabalho todos gostavam de Calango. Calango era gentil, era honesto, comprometido com os resultados da empresa e sempre tinha disposição para ajudar a todos.

Mas Calango tinha uma habilidade que nem mesmo ele conhecia. Ele tinha a habilidade da escrita. Ele sabia escrever textos persuasivos, que emocionavam e levavam seus colegas de trabalho a refletir na vida e até os inspiravam a serem pessoas melhores.

Sem perceber, essa habilidade se aflorou, e assim, Calango começou a ajudar Lagartixa – a secretária do diretor – com as comunicações oficiais. Os dois se tornaram amigos, e sempre trabalhavam ajudando-se mutuamente.

Certo dia, Lagartixa disse para Calango, que o departamento Financeiro estava com problemas com as cobranças de clientes mal pagadores, e sugeriu que ele fosse lá para ajudá-los.

Assim fez Calango.

Ele ajudou o departamento Financeiro, a elaborar cartas de cobranças de clientes mal pagadores. Todos do departamento gostaram da ajuda de Calango e diziam: “Calango, você tem talento”.

E Calango voltava para suas funções, que apesar de não lhe trazerem nenhuma satisfação, ele o fazia com responsabilidade.

Lagartixa que sabia de tudo que acontecia na empresa, dava as dicas para Calango. “Procure o pessoal da contabilidade…”

A contabilidade tinha um grave problema com a cobrança abusiva de impostos. Eles precisavam elaborar uma documentação, que fosse fortemente embasada na legislação vigente, para que assim a empresa pagasse menos impostos. Esse foi o trabalho mais difícil de Calango, pois ele não entendia nada de legislação. Felizmente, a empresa tinha excelentes contadores, que municiaram Calango de todas as informações para a pesquisa que Calango precisava realizar. Calango os ajudou criando a documentação e ao final do trabalho todos diziam: “Calango, você tem talento”.

E mais uma vez, Calango voltava para sua salinha abafada no final do corredor.

Na surdina, Lagartixa dizia: “Departamento de vendas…”

Em pouco tempo, os vendedores tinham scripts que reduziam o tempo de atendimento, e aumentavam as vendas. E todos diziam: “Calango, você tem talento”.

Lagartixa sussurrava: “Marketing…”

Foi no departamento de marketing, que o trabalho de Calango realmente se destacou. Calango ajudou a reescrever todas as páginas de vendas, reestruturar os vídeos de vendas e redigir novos e-mails para envio em massa. Calango ajudou os redatores a escreverem artigos, e melhoraram o SEO do domínio. E sempre dava pitacos sobre as postagens em redes sociais, com o objetivo de melhorar o branding da empresa.

No departamento de marketing todos lhe diziam: “Calango, você tem talento”.

Dia após dia, a empresa vendia mais, tinha mais lucros e crescia. E Calango, informalmente ajudava um e outro, e sentia enorme satisfação.

Lagartixa dizia para Calango, que ele deveria aprimorar seus conhecimentos. Ele deveria fazer um curso de copy e ele se tornaria um grande profissional. “Calango, você fica aqui trabalhando para receber uma porção de mosquitos todos os dias para se alimentar, mas pode ter muito mais. Dizem que um bom copywriter recebe moscas gordas, besouros, grilos, gafanhotos para se alimentar. Um bom copywriter se alimenta do que quiser, pois é muito recompensado pelo seu trabalho”.

– “Você já experimentou um besouro em sua vida Calango? Dizem que é muito saboroso” – dizia Lagartixa.

Enquanto desempenhava suas funções em sua salinha abafada, Calango refletia sobre tudo isso. Imaginava sobre os sabores de moscas gordas e de besouros. E começava a sonhar com o dia que seria reconhecido pelo seu trabalho.

“Calango, você tem talento” o enchia de orgulho. Ele se imaginava como alguém importante sentado em uma ampla sala, iluminada por grandes janelas. Alguém que o trabalho traz resultados e é recompensado por isso.

A festa de fim de ano chegou: A confraternização da empresa.

Todos estavam ali, orgulhosos pelo ano que se passara. Pelos resultados que colheram.

Comeram, brindaram, beberam, dançaram, se abraçaram. Confraternizaram.

Quanto todos já estavam enfastiados o diretor se dirigiu a frente, e começou a falar. Era o momento que todos esperavam. Viriam os louros pelo trabalho realizado durante o ano. E principalmente, os prêmios pelos melhores resultados.

Dizia o diretor em tom grave:

Nossa homenagem esse ano começa com o departamento financeiro, que reduziu a inadimplência em 24%. Por esse resultado, todos do departamento receberão um pacote extra de mosquitos para se alimentarem.

Todos aplaudiram e ovacionaram a equipe do departamento financeiro, interrompendo a fala do diretor.

Em seguida vem a contabilidade que conseguiu reduzir a cobrança de impostos em 17%. Pelo resultado, todos do departamento receberão um pacote extra de mosquitos, e uma porção generosa de moscas gordas para se alimentarem.

Irromperam todos em aplausos e comemorações.

Não podemos nos esquecer pelo excelente trabalho de nossa equipe de vendas, que reduziu o tempo de atendimento médio em 48%. 48% senhores. Não é pouca coisa. Como recompensa, todos os vendedores ganharão, um pacote extra de mosquitos, uma porção generosa de moscas gordas e uma porção de besouros. Para que cada vendedor, possa se alimentar e sentir o prazer do sabor dessa iguaria, que é o besouro.

Mas o grande campeão do ano, é o departamento de marketing. Que trabalho fabuloso que vocês realizaram esse ano. Nossas páginas de vendas estão com índices de conversão batendo recordes nunca alcançados. Nossos vídeos de vendas nunca foram tão assistidos. Nosso CPC dobrou e nosso ROI chegou num patamar jamais imaginado. Como recompensa, todos do departamento de marketing receberão duas porções extras de mosquitos, duas porções generosas de moscas gordas, e uma porção de besouros tailandeses. Se o besouro comum já é saboroso, experimentem esses besouros tailandeses. São de sabor incomparável.

A algazarra foi tanta que foi difícil para o diretor prosseguir com seu discurso.

Com dificuldade, o diretor tenta finalizar seu discurso: “Apesar dos excelentes resultados, dias difíceis de aproximam, e dias difíceis requerem decisões difíceis. Nosso planejamento estratégico exige medidas drásticas, que serão adotadas já no primeiro dia do próximo ano. Mas tenham coragem e sigamos em frente”.

Ninguém deu atenção para a sua última fala. Todos somente queriam comemorar, confraternizar e parabenizarem-se uns aos outros.

Sozinho em um canto, Calango se pergunta, quanto do resultado de cada um dos merecedores dos prêmios se devera à sua ajuda? Será que eles teriam esses resultados sem o seu auxílio?

Calango presta atenção a tudo e a todos, e se dá conta que hoje não ouvira nenhuma única vez: “Calango, você tem talento”. Ninguém veio correndo para abraçar Calango. Ninguém veio agradecê-lo pela ajuda dada. Praticamente todos se esqueceram que Calango existe.

Absorto, Calango refletia sobre sua vida, seu trabalho, suas esperanças e seu futuro.

Alguém passa e dá um tapinha nas costas de Calango, tirando-o de seus devaneios. Mas, tão rapidamente quanto o gesto foi feito, a pessoa segue em frente procurando alguém para confraternizar. Calango não está ali.

Do outro canto do salão, um olhar fitava o rosto de Calango. Lagartixa sabia que por trás da máscara do sorriso do amigo havia decepção e tristeza, pois ninguém reconhecera a significativa ajuda que Calango dera a cada um dos departamentos homenageados. No próximo ano, sua função na empresa continuaria sendo aquele trabalho sem nenhum glamour. Repetitivo e monótono, na salinha ao final do corredor. E sabia também que fatalmente iriam solicitar a ajuda de Calango, e Calango, como bom moço que era, continuaria ajudando a todos.

A festa acabou. O ano acabou. Um novo ano se iniciou.

No primeiro dia do novo ano, Calango se dirige à sua sala ao final do corredor. Assim que Calango chega em sua mesa, o seu telefone toca. Era Lagartixa.

“Fui transferida para o RH” – dizia Lagartixa, afobada e sem nenhuma emoção. “O sr. Camaleão do RH quer falar contigo. Agora”.

“Ok. Já estou indo” – Calango respondeu.

Calango se enchera de orgulho. No primeiro dia já estão solicitando a minha ajuda. O que será que eles precisam?

Pensava: Vou me esforçar para que esse ano eu os ajude ainda mais. Quem sabe, se eu realizar um bom trabalho, posso finalmente ser reconhecido?

E foi para lá animado.

Ao entrar no RH, Calango passa por Lagartixa que finge procurar alguma coisa em uma gaveta e não olha para ele. Calango que é esperto, e enxerga coisas onde muitos não veem nada, observa que Lagartixa está triste. Os olhos inchados de Lagartixa, denunciam que ela havia chorado.

Ele pega em sua mão, e lhe diz carinhosamente: “Vou atender o Sr. Camaleão e volto aqui para conversarmos. tá?”. E sai.

Mas Calango não voltaria para confortar Lagartixa. A notícia que ele receberia o abalaria e mudaria toda a sua vida.

Ao entrar na sala do Sr. Camaleão, esse lhe diz com a voz solene. “Sente-se Calango”.

“Como você sabe, o nosso sábio diretor, nos avisou na festa de fim de ano que teríamos dias difíceis pela frente. E que no planejamento estratégico, haviam sido determinadas medidas duras visando o crescimento da empresa. Portanto a empresa está eliminando funções não importantes e faremos uma redução em nosso quadro de funcionários e você… bla bla bla bla bla”.

Calango ficou absorto. O Sr. Camaleão, não parava de falar, mas nada do que ele dizia fazia sentido para Calango. A voz do Sr. Camaleão era como um ruido marrom. Aos poucos você se esquece de que aquele ruido existe, e você entra em um estado Alfa de introspecção.

Você concorda com tudo que está sendo dito, mas não se lembra de nenhuma palavra proferida.

Sentado, ouvindo apenas um murmúrio ao longe das palavras do sr. Camaleão, Calango sente em sua mente o pulsar de uma única frase:

Calango, você tem talento…

Calango, você tem talento…

Calango, você tem talento…

Qual o significado dessa frase?

De que lhe serviu ouvir isso repetidas vezes?

Nada fazia sentido.

Calango descobre que ele era dispensável. Agora, “Calango, você tem talento”, não significa mais nada.

Joe Oliveira

Sobre esse projeto

Meu objetivo aqui é um só: Divulgar minha habilidade em escrever conteúdos comerciais para me posicionar como Copywriter, escrevendo cartas de vendas, videos de vendas, anúncios, emails e elaborando campanhas comerciais.

Tudo que é escrito, é pensado para ser utilizado como um portfólio.

Aqui você saberá um pouco do que penso em relação ao mundo, mas principalmente como eu expresso as minhas ideias.

O resultado que você vê é fruto de um pouquinho de inspiração e muita , mas muita transpiração.

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